Em 1986, através do Decreto nº 33.193, de 27 de maio de 1986, seguido pelo Decreto nº 33.333, de 30 de junho 1986 foi decretada a criação do Parque Estadual de Canudos – PEC, integrando importantes áreas de terras onde se deu a guerra fratricida. O Parque compreende uma área de 1.321 hectares.
Constitui-se em um teatro da guerra de Canudos, notadamente de acampamentos militares, da presença conselheirista e de violentos combates, abrigando valiosos sítios históricos, arqueológicos e antropológicos.
Consolidado como “verdadeiro museu a céu aberto”, o Parque está demarcado, sinalizado e dotado de infraestrutura adaptada às condições locais, sendo propício à realização de pesquisas e ao incremento do turismo histórico, abrindo campo para produtivas atividades pedagógicas na área, o que beneficia estudantes e professores de toda a região.
É nesse vasto anfiteatro, onde estão sepultados vestígios materiais abundantes que com o auxílio das pesquisas histórica e arqueológica ajudam a contar e problematizar os violentos ataques aos seguidores de Antônio Conselheiro no final do século XIX
O observador poderá conhecer o Vale da Morte (onde militares sepultavam seus mortos, o Alto do Mário (ou do Maia), a Fazenda Velha, onde morreu o coronel Antônio Moreira César (1850-1897), comandante da terceira expedição, os Pelados, Acampamentos Militares e o Alto da Favela, importante trincheira conselheirista ativa até 28 de junho de 1897; desse ponto estratégico pode-se vislumbrar parte das ruínas da segunda Canudos, ora submersa nas águas do açude Cocorobó.
Intervenções artísticas estão implantadas em exposição museográfica, constituída de painéis em vidro, de autoria do saudoso fotógrafo e documentarista Claude Santos, exibindo fotografias de inúmeros e renomados fotógrafos que retrataram a Guerra de Canudos, os seus remanescentes e descendentes de conselheiristas; insere-se, ademais, o mapa da região do conflito e gravuras com imagens sertanejas.
SÍTIOS HISTÓRICO-ARQUEOLÓGICOS
Segue-se uma descrição sumária dos sítios histórico-arqueológicos:
Guia do Cenário da Guerra – elaborado pelo fotógrafo e documentarista Claude Santos, com apresentação deste e de Luiz Paulo Neiva, que sinaliza um roteiro privilegiado para se conhecer o Parque.
Alta da Favela – Alto da Favela, também chamado de Morro Vermelho e Morro da Favela, é, depois da Praça das Igrejas, a locação mais importante do cenário da Guerra de Canudos. Dela, tinha-se uma visão frontal e geral do arraial conselheirista, hoje submerso nas águas do Açude Cocorobó.
Ponto de resistência dos jagunços conselheiristas no início das operações da quarta expedição, comandada pelo general Artur Oscar, essa locação foi tomada pelos militares na manhã de 28 de junho de 1897. Nesta mesma manhã, aconteceu o encontro das duas colunas que formavam a expedição e tinham se deslocado de Monte Santo, na Bahia e Jeremoabo, em Sergipe. Aqui ficaram até 18 de julho , quando investiram contra Canudos, através da linha negra, e estabeleceram acampamentos e hospitais de sangue ao norte da cidadela. Até o final da guerra, as forças republicanas mantiveram no Alto da Favela acampamentos militares e artilharia.
Hospital de Sangue – Ativos durante a primeira fase das operações da Quarta Expedição Militar, entre 28 de junho e 18 de julho de 1897, os hospitais de sangue ficavam atrás do Alto da Favela. Nesse local será instalado o marco visual “Hospital de Sangue”, apresentando uma fotografia de Augusto Flávio de Barros produzida durante o conflito.
Alto do Mário – Também conhecido como Morro do Mário, Alto do Maya e Alto do Mayo, possivelmente esta locação era o “maiador” – no linguajar sertanejo lugar de “maiar” as montarias e o gado – da Fazenda Velha. Logo no início das operações da quarta expedição militar, este local serviu de entrincheiramento para o 5º Corpo de Polícia da Bahia. Daí, alvejavam as trincheiras conselheiristas na Fazenda Velha e no Arraial de Canudos.
Fazenda Velha – Também conhecida como Tapera e Trincheira 7 de Setembro, nesta locação estavam as ruínas da antiga sede da Fazenda Canudos, onde morreu o comandante da terceira expedição militar, coronel Moreira César, na madrugada do dia 4 de março de 1897. Durante a quarta expedição, este local foi importante trincheira conselheirista até a noite de 7 de setembro, quando foi tomada pelas forças republicanas.
Pelados – Deste promontório, a cavaleiro do Arraial de Canudos, tinha-se uma visão privilegiada da cidade conselheirista. Esta locação serviu para assentamento da artilharia militar durante as expedições Moreira César e Artur Oscar.
Vale da Morte – O Vale da Morte aparece em vários relevos, jornalísticos e militares, sempre se reportando aos dias de fome, sede e desespero impostos à soldadesca por causa da desorganização dos comboios vindos da base militar montada em Monte Santo. Muitos foram atacados no caminho pelos piquetes comandados pelos defensores de Canudos. Por este estreito vale, as forças da primeira coluna da quarta expedição militar tentaram chegar ao Alto da Favela no entardecer do dia 27 de junho de 1897 e foram surpreendidas pelos combatentes conselheiristas entrincheirados nos cimos dos morros que ladeiam a locação. Este local – também conhecido como Toca da Favela, Gruta da Favela, Vale Sinistro e Boca do Lobo – foi usado com cemitério durante a expedição Artur Oscar e nele estão enterrados não só militares, mas, também, mulheres e crianças, companheiras e filhos de soldados.
Ponto de Conforto – Situado perto do Alto da Favela, o visitante encontrará local para descanso
Trilhas do caminhante – Comece a sua visita ao Parque Estadual de Canudos pelo Alto da Favela. Lá você encontrará um mapa indicando os deslocamentos das forças militares. Depois, vá ao Vale da Morte e Riacho do Motta. Caminhando pela Estrada de Massacará, você chegará ao Alto do Mário, Fazenda Velha e Pelados.
Camping Universitário – este equipamento serve para hospedar até 80 visitantes, notadamente alunos dos diversos Campi da Uneb, que acorrem ao município para realizar pesquisas e estudos relacionadas com a guerra de Canudos, arqueologia, bioma caatinga, etc.
Horto de produção de mudas – com capacidade de produção de até 40 mil mudas de plantas anualmente, esta iniciativa se deu por conta da necessidade premente em reflorestar o PEC, vez que, o bioma caatinga tem sofrido a degradação climática, e com isso várias espécies já se encontram em estado de extinção.
Intervenções artísticas – Cenários da Guerra
O projeto “Intervenções Artísticas” implantado no PEC, contratado junto ao fotógrafo e documentarista Claude Santos, exibe com maestria uma iconografia existente sobre o conflito, dotando-o, desta forma, de uma estrutura museológica que se reporta à história da guerra, e, também apresenta obras pictóricas inspiradas nela.
Pinturas, desenhos e fotografias sobre a Guerra de Canudos são expostas em “Cenários”, previamente mapeados, que estimulam a contemplação do palco da “Tragédia Sertaneja”. Infelizmente com o falecimento precoce de Claude Santos não foi possível concluir o projeto com mais cenários planejados.
As intervenções artísticas estão distribuídas em cenários onde foram implantados totens em vidro:
a) No Alto da Favela – os marcos visuais “Mapa do Cenário da Guerra” e “Antônio Conselheiro”.
b) Nos Hospitais de Sangue está retratado o marco visual “Hospital de Sangue”, apresentando uma fotografia de Augusto Flávio de Barros produzida durante o conflito.
c) Chapada dos Equívocos – Situado logo após a entrada do PEC e tendo ao fundo a Serra do Angico, essa instalação visual se reporta às contradições e equívocos que levaram à Guerra de Canudos. Foi criada tendo como inspiração detalhes da obra do artista Tripoli Gaudenzi.
d) Alto das Memórias – Montada com imagens produzidas a partir do final dos anos 40 do século XX, essa exposição apresenta os sobreviventes da Guerra e seus descendentes retratados por Pierre Verger, Alfredo Vila-Flor Santos, Audálio Dantas, Antônio Olavo, Evandro Teixeira, Antenor Júnior, Marco Santilli e Claude Santos.
e) Esplanada dos Conselheiristas – Essa exposição, que tem como cenário as Serras da Canabrava e Cocorobó, homenageia o povo de Canudos, através das pinturas do artista Tripoli Gaudenzi.
f) Outeiro das Marias – Essa instalação visual, criada com um relevo de Michelangelo e detalhes da fotografia “As Prisioneiras” de Flávio de Barros, homenageia as mulheres canudenses e as “vivandeiras”, mulheres de soldados e oficiais.
g) Os Memorialistas